domingo, 24 de outubro de 2010

Tiririca e os fichas sujas!


Por  Oswaldo Amaral

Qual o motivo que justifica a cassação da candidatura de Tiririca se ficar comprovado que ele é analfabeto? Humilhá-lo? NÃO! Evitar que “fichas sujas” sejam eleitos, se por acaso não forem punidos pela Justiça Eleitoral.
De acordo com a Constituição, os analfabetos são inelegíveis e, portanto, não podem se candidatar e receber votos. Por lei, os candidatos são obrigados a apresentar à Justiça Eleitoral um comprovante de escolaridade. Na ausência de comprovante, devem demonstrar capacidade de ler e escrever. Para registrar sua candidatura a deputado federal, Tiririca apresentou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo uma declaração em que ele afirma que sabe ler e escrever. Essa declaração, segundo as normas legais, deve ser escrita de próprio punho. Mas Tiririca, de fato, sabe ler e escrever? A suspeita é que não. Vários indícios permitem levantar essa desconfiança.
O humorista Ciro Botelho, redator do programa Pânico da rádio Jovem Pan, diz que escreveu sozinho o livro As piadas, publicação é assinada só por Tiririca. Botelho diz que escreveu com base em histórias contadas por ele. “O Tiririca não sabe ler nem escrever”, afirma.
Dois funcionários da TV Record também disseram a ÉPOCA que nos bastidores do programa humorísticoShow do Tom, do qual Tiririca participa, é sabido que ele não lê nem escreve. De acordo com Ciro Botelho, o palhaço conta com a ajuda da mulher para decorar suas falas: “A mulher fica no camarim com ele e vai falando o texto. Ele vai decorando e conta do jeito dele”.
A reportagem de ÉPOCA acompanhou Tiririca por dois dias na semana passada. Viu o candidato dar autógrafos com uma grafia bem diferente da que aparece na declaração apresentada ao TRE, com letras redondas. Aos fãs, ele assina um rabisco circular ininteligível e desenha o que seriam as letras do nome de seu personagem. Em duas ocasiões, a reportagem deparou também com situações que demonstram que Tiririca tem, no mínimo, enorme dificuldade de leitura. No dia 21, a reportagem pediu para Tiririca ler uma mensagem de celular. Ele ficou visivelmente assustado diante do aparelho. O constrangimento do candidato só foi desfeito quando uma assessora leu o torpedo em voz alta. Minutos antes, referindo-se às críticas feitas a sua candidatura nos jornais, Tiririca dissera: “Eu não leio nada, mas minha mulher lê para mim”.
No dia 22, ÉPOCA fez um teste com Tiririca. Durante um almoço, pediu a ele para responder a perguntas da pesquisa Ibope sobre o Congresso. As duas primeiras questões foram lidas pela reportagem e respondidas normalmente por Tiririca. Em seguida, foi apresentado ao candidato um cartão para ele ler a terceira pergunta e as alternativas de resposta. Nesse momento, seus assessores o cercaram imediatamente. O filho de Tiririca, Éverson Silva, começou a ler a pergunta para o pai, mas a pesquisa foi interrompida pelos assessores com a alegação de que ele precisava almoçar e que a aplicação da pesquisa não fora combinada previamente. A cena pode ser vista em um vídeo no site de ÉPOCA.
Depois desse novo mal-estar, ÉPOCA tentou questioná-lo sobre sua alfabetização. Sua assessoria de imprensa não permitiu mais contatos. Ela diz que Tiririca sabe ler e escrever, mas os pedidos de um encontro com o candidato para que ele lesse um texto e encerrasse as dúvidas foram recusados. A assessoria disse que Tiririca está na reta final da campanha e ficaria “chateado por ter de provar que sabe ler”.
O que acontece com um candidato sobre o qual há dúvidas sobre sua alfabetização? “Se houver dúvidas, o juiz pode submetê-lo a um teste”, diz o advogado Fernando Neves, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo Neves, essa prova é simples e visa apenas certificar a capacidade de ler e escrever do candidato. Se o candidato não conseguir provar que é alfabetizado, a jurisprudência da Justiça Eleitoral diz que a candidatura deve ser cassada.

Um comentário:

  1. Caro Oswaldo Amaral,

    o texto está bem escrito, fácil de ler e com conteúdo bem atual. Respeito sua opinião sobre o assunto no entanto, discordo em alguns aspectos.

    Por exemplo, acredito que a intenção é sim humilhar o Tiririca. Você sabe por quê? Porque ele é fácil de bater, é pobre, não tem advogados ministros do STF, ou STJ.

    A discriminação contra ele é a mesma que todos têm pelo presidente Lula. Ninguém aceita que um analfabeto, que não saiba ler ou escrever, seja feio e fale errado, ocupe cargos públicos.

    Alguém critica de forma tão dura os deputados com diploma de PhD? Muito difícil, concorda? Ele, nem de perto, está no mesmo nível dos verdadeiros fichas-suja que estão no Congresso.

    Ninguém esperava do Lula, ninguém espera do Tiririca. De forma alguma acho que ele conseguirá feitos como o presidente, mas não duvido de sua capacidade.

    Diploma não trás consciência ou caráter, apenas uns anos a mais de estudo. Deboche não é o tiririca ser eleito, é a família Roriz querer governar novamente o DF.

    Vamos parar de ter preconceito contra o analfabeto, o sujo e o feio. Se pensarmos, há muitos lá bem piores.

    Querem humilhar o Francisco Everardo a todo custo. Deveriam começar a olhar um pouco mais a fundo a política, para não ficar no superficial.

    Quanto à Lei, será que todos lá a respeitam da forma como deveriam? Será que os 513 deputados nunca fizeram algo fora da Lei?

    Vamos olhar pro Tiririca com menos preconceito.

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